quarta-feira, 1 de julho de 2015

di Gestão de Pessoas


di Gestão de Pessoas

 PDF 415 (v.Pk)
 
 
Alguns povos denominados como primitivos, — pelos povos autodenominados como civilizados —, também foram denominados como canibais. Os povos ou grupos de pessoas, que capturavam seus supostos inimigos e consumiam suas partes, como um gesto ligado a crenças ou religiões. Muitos acreditavam que ao consumir os grandes e poderosos inimigos, os inimigos inteligentes, estariam adquirindo seus poderes e seus conhecimentos. Poderiam inclusive preferir consumir partes anatômicas definidas, como o coração, ou como o cérebro. Por intuição ou certeza, entendiam que o cérebro seria o comando do corpo, e consumindo cérebros de estrategistas inteligentes, poderiam adquirir suas táticas e suas estratégias, consumindo a sua mente. Corações poderiam ser fortes e valentes, ardentes ou gelados. Outros poderiam preferir o fígado. Pensamento valido, ou não, um desafio deixado para a ciência; que ela, a ciência, consuma seus neurônios: suas fagocitoses e suas sinapses.
Em uma receita indígena: churrasco de homem branco. Depois de ensinar os modos de preparo do fogo, da grelha, e da lenha. Atribui como a melhor parte, uma parte muito apreciada pelos índios. A parte compreendida entre os dedos indicadores e os dedos polegares. Parte conhecida na anatomia como tabaqueira. A parte de apoio para fumantes prepararem seus cachimbos, e desfiarem o tabaco, para um cigarro de palha.
Entre a ciência e o empirismo. A ciência é considerada um saber e um conhecimento, por realizar coleta de dados, análises, testes e experimentos, e admitir uma repetição em cima dos resultados obtidos e estimados. Tal como o conhecimento empírico que resiste ao tempo pelas suas repetições. Chás de ervas, com folhas e talos, frutos ou sementes, são do conhecimento empírico. O conhecimento popular, surgido do povo, por darem resultados repetidas vezes, sem estar descrito em planilhas e estatísticas, apenas por observação dos resultados obtidos, repetidas vezes, com diferentes pessoas. E a ciência se apropria do histórico cultural. Uma difusão do conhecimento, por uma informação verbal, a história oral, a construção cultural. E a ciência funciona tal como uma religião. Depois de dados coletados e analisados, resta a fé do evento acontecer, repetir tal como previsto. Tal como suas repetições nas análises passadas.
O empirismo não é esquecido, a crendice é continuada. Tal como a educação e conhecimento são pregados, de serem postergados e continuados. Ainda hoje temos a expressão que ressalta o dizer do desejo, de alguém consumir o fígado de outrem. Sendo o fígado a maior glândula do corpo, com capacidades regenerativas e digestivas. Algumas partes anatômicas poderiam ser consideradas, pelos chamados de canibais, como partes mais nobres, cabendo o consumo a pessoas destacadas e escolhidas. Na Bíblia temos uma passagem: o desejo da cabeça de João Batista (Mateus, 14), o profeta ressuscitado.
Servir a cabeça de alguém em uma bandeja, já pode ter sido considerado hábitos de requinte, de crueldade e selvageria. Inimigos já foram degolados, decapitados e guilhotinados. A cabeça separada do corpo, o ser desconectado do Universo. O Universo como a casa das estrelas e o universo intelectual, contido em seus pensamentos mentais.
No sertão brasileiro, personagens considerados como inimigos dos sistemas políticos, tiveram suas cabeças decepadas, como prova do feito, e a glória da vitória. Lampião e outros cangaceiros, e Antônio Conselheiro, tiveram suas cabeças decepadas, como prova de fim de suas existências, o fim de suas histórias respaldadas pela ciência. A ciência que pretendia descobrir e definir suas ações, ao pesquisar cabeças decepadas em laboratório. A curiosidade da ciência, pesquisar parâmetros para criar suas teorias. Cortaram cabeças em nome da ciência, em nome do conhecimento.
Hoje imagens de cabeças e corpos sem cabeças, são compartilhados e zapeados, em celulares e computadores, em redes sociais ou grupos privados. Em alguns dias na história as cabeças foram expostas e praça públicas, e nos degraus de uma escada, A informação e conhecimento mudam com o tempo e a mídia. Podendo ser aplaudida ou rechaçada.
Daí o homem mudou seus rumos, partiu para um canibalismo de coisas e objetos, frutos de um desejo. Desejos próprios ou fomentados pela propaganda, atiçando os desejos, criando estratégias de consumismo. Criou artefatos que pudessem causar inveja e desejo em quem não os possuía, mas poderia fazer de tudo, e pagar o quanto tivesse para alcançar um objeto de desejo. O desejo de ter algo para facilitar a vida, o desejo de se embelezar, ou o desejo de ter, somente por ter, diante de quem não tem. O simbolismo de um poder, como um carro ou uma joia. A possibilidade de devorar o desejo do outro. O canibalismo do outro pela possibilidade e poder, de obter o desejo, de um e de outro. Excluir o outro, pelo ter um produto que o outro não tem. Inclusive o saber e o conhecimento. Criar histórias e publicar; ter um livro impresso como perpetuação de sua história, a materialização dos personagens descritos, a mobilidade dos que ali estão citados. Ter um livro publicado que o outro não tem.
O ser humano evoluiu a partir de seus próprios pontos de vistas, e não consome carne humana, consome as carnes de outros animais. De crua a defumada; embutida ou enlatada, com marcas e grifes elitizadas. Requintados em sabores e embalagens, acrescentadas de especiarias, raras ou importadas. Com frases na embalagem de ser uma reserva especial. VSOP – Very Special Old Par, para pessoas especiais; VIP – Very Important Persons. RSPV -  Répondez S'il Vous Plaît. As estratégias de pertencer a pequenas classes, classes elitizadas e gourmetizadas. Estratégias de poder, com a exclusão de outros.
Alguns movimentos populares e religiosos pregam o não consumo de carne animal, como um ato de respeito e evolução, dos animais, da humanidade e do mundo, do planeta e do Universo. E novamente a religião. A unificação do Universo, o Universo tornando-se único. E morreu Maria preá, pois só o futuro dirá. E surge outra teoria, a dos universos paralelos; ou a humanidade chegou a um limite, e agora retorna ao ponto inicial. Da grande explosão (Big Bang), a uma lenta implosão, de ideias e conhecimentos.
O ser humano deixou de ser, e ser visto como animal. Passou a ser um ser social, capaz de viver em uma sociedade, a visão de todos por um e um por todos. Formou grupos diferenciados. Casa e casamento, escolaridades, idades e afinidades; clubes e igrejas. Reservas intelectuais com associações profissionais. Os cinco dedos definiram cinco classes ou grupos de envolvimentos: parentesco; vizinhança; escola, colégio ou trabalho; clubes e associações, politicas; igrejas, seitas e religiões.
O homem evolui mais um pouco, e pode ser considerado um ser intelectual, passando a servir cabeças em bandejas simbólicas, de prata, finamente decoradas e manufaturadas. Mudaram as estratégias de poderes. Exclui outros, por ter um canudo de papel. O antigo papel de escritas, enrolado como um pergaminho. Universidades invisíveis. Criam-se estratégias de limitar os possuidores do canudo. Canudos diferenciados, escalonados, diplomas e certificados. Especializados, mestrados e doutorados. E os doutores temendo a disputa no topo da pirâmide que ocupavam, criaram mais outro degrau, o dos pós-doutorados. Novas disputas em conseguir quantidades de pós-doutorados.
Professores tem poderes degoladores, reprovadores. Um fato comum antes de provas em escolas e faculdades, é a expressão “cabeças vão rolar”. Cortam cabeças em nome do conhecimento, estratégias dos séculos passados. O poder de aferir um zero na prova apresentada. O aluno deve responder na prova as palavras mais exatas, e mais próximas do que as que o professor tenha falado, caso contrário poderá ser degolado, e com muitas reprovações será jubilado, excluído do meio acadêmico. O domínio e o poder do professor articulado com o sistema opressor e dominador do saber, associado a instituições públicas e particulares de saberes. O conhecimento ditado e repassado. Cada aluno tem a opção de assimilar ou não.
A academia do conhecimento como detentora de um saber, apropriada de um conhecimento que não produziu, apenas anotou e escreveu. Descreveu e publicou, seja em livros ou apostilas, em revistas especializadas. A escrita como um domínio, sobre o saber oral. E o aluno ainda é cobrado saber a lição na ponta da língua, além de produzir um documento escrito, que possa ser conferido. A prova, como prova legal de seu conhecimento. O repasse da responsabilidade do ônus da prova, o ônus de quem acusa. A prova corrigida por alguém, que detém um suposto conhecimento. Mas o conhecimento está nas ruas, fora das salas de aulas. O conhecimento está literalmente nas mãos, ao alcance dos olhos.
Depois da academia do conhecimento, da universidade ou da faculdade, outros grilhões. O homem intelectual com outras estratégias. O homem detentor de um capital financeiro, com a busca de deter uma capital intelectual. Estratégias e ferramentas agora admitidas, consome e suga as forças de outros humanos, não declarados como inimigos, mas declarados no PIS, como funcionários e colaboradores. Caso não se comportem como o desejado, aí sim serão inimigos e podem ser banidos, exilados ou expulsos de uma empresa com o título de demitido. Um título que macula seu currículo. Anos de trabalho podem ser jogados fora com uma CTPS carimbada.
 Entre Natal/RN e Parnamirim/RN, 1 de julho de 2015
 
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